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Redes Sociais e Conspiração: como a Internet foi ferramenta para a ruptura democrática

Foto do escritor: Raul SilvaRaul Silva

Brasília - O inquérito PET 12.100 do Ministério Público Federal (MPF) revela uma estratégia estruturada de uso das redes sociais e influenciadores digitais como mecanismo de mobilização para uma tentativa de ruptura democrática no Brasil. A investigação mostra que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro criaram um ambiente de desinformação massiva, preparando terreno para o questionamento dos resultados das eleições de 2022 e a escalada para atos violentos, como os que ocorreram em 8 de janeiro de 2023.


Imagem gerada com IA simbolizando o uso das Redes Sociais na tentativa de Golpe no Brasil.
Imagem gerada com IA simbolizando o uso das Redes Sociais na tentativa de Golpe no Brasil.

A Disseminação de Fake News Como Ferramenta de Mobilização


Desde 2021, a organização criminosa identificada na investigação passou a empregar uma estratégia de "estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações" e "replicar essa narrativa novamente e constantemente". A intenção era criar uma percepção coletiva de desconfiança em relação à integridade do sistema eleitoral, minando a confiança da população e preparando o cenário para contestações violentas do resultado das urnas.


O MPF identificou que as fake news foram amplificadas por uma rede coordenada de influenciadores digitais, que disseminavam informações deturpadas sobre o sistema de votação eletrônica, criando um ciclo de desinformação. "A narrativa propagada, mesmo sem qualquer comprovação, era de que Bolsonaro teria vencido no primeiro turno em 2018, e que fraudes sistemáticas impediriam sua reeleição."


Da esquerda para a direita: Maxcione Pitangui, Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio — Foto: Reprodução
Da esquerda para a direita: Maxcione Pitangui, Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio — Foto: Reprodução

O Papel dos Influenciadores Digitais


Influenciadores de extrema direita desempenharam papel chave na propagação dessas falsas informações. Segundo o inquérito, a organização criminosa "repassava material para influenciadores digitais, que disseminavam conteúdo fabricado sobre fraudes eleitorais e ataques à legitimidade do sistema democrático". A investigação mostra que, ao longo do processo eleitoral, grupos de WhatsApp, Telegram e Twitter (X) foram inundados com mensagens orquestradas para manter o clima de tensão e hostilidade.


Em julho de 2022, Bolsonaro convocou reunião ministerial na qual "falou-se inequivocamente em 'uso da força' como alternativa a ser implementada, se necessário". Essa declaração fortaleceu o discurso radical em redes sociais, com influenciadores ampliando o chamado para "resistência patriótica", criando uma narrativa de vitimização e fomentando teorias conspiratórias sobre um suposto golpe contra Bolsonaro.


Preparando o 8 de Janeiro


A investigação aponta que após a vitória de Lula nas eleições, a mobilização digital aumentou significativamente. A narrativa de fraude foi intensificada, alimentando os acampamentos golpistas em frente aos quartéis militares. O inquérito destaca que "a narrativa falsa das fraudes nas urnas foi alimentada pelos integrantes da organização, que repassavam material desse tipo para influenciadores digitais".


Os meses de novembro e dezembro de 2022 foram marcados pela proliferação de conteúdos incentivando uma "intervenção" que impedisse a posse do presidente eleito. Durante esse período, plataformas digitais foram usadas como canal de recrutamento e mobilização para os atos de 8 de janeiro, quando sedes dos Três Poderes foram depredadas. "A estratégia envolvia ataques virtuais coordenados a figuras institucionais e uma intensificação dos discursos golpistas, com o objetivo de radicalizar a base de apoiadores."


O inquérito PET 12.100 evidencia que a internet e as redes sociais foram instrumentalizadas de forma coordenada para disseminar desinformação e incitar a adesão de apoiadores ao movimento golpista. Influenciadores digitais desempenharam papel fundamental, utilizando plataformas como WhatsApp, Telegram e Twitter (X) para disseminar narrativas de fraudes eleitorais e justificar um ataque ao Estado Democrático de Direito.


A tentativa de ruptura democrática não foi espontânea. Foi articulada e sustentada em grande parte por estratégias de comunicação digital que, segundo o MPF, "visavam criar um ambiente de convulsão social para justificar a permanência no poder do então presidente Bolsonaro, contrariando o resultado das urnas".


A investigação segue em curso e levanta questões urgentes sobre o impacto das redes sociais na estabilidade democrática e o uso da desinformação como arma política.


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