Levantamento mostra que jovens desistem da faculdade por causa de apostas online
- Zalxijoane Ferreira

- 12 de ago.
- 3 min de leitura

O avanço das apostas online no Brasil vem causando, além da preocupação do vício, o comprometimento do futuro acadêmico de milhares de jovens no país.
Um levantamento da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior mostra que 34% dos brasileiros entre 18 e 35 anos que pretendiam iniciar uma graduação em 2025 adiaram os planos por estarem com a renda comprometida com jogos de azar virtuais, o que representa cerca de 986 mil pessoas. O índice é ainda mais alto entre jovens de classes D e E em regiões como Nordeste com 44% e Sudeste com 41%.
Alisson Batista, especialista em gestão educacional e administrador registrado Conselho Regional de Administração de Minas Gerais (CRAMG), explica de que forma o vício em apostas online podem impactar diretamente a trajetória educacional dos jovens brasileiros.
"Hoje, infelizmente, temos os jogos de azar online por meio de aplicativos muito acessíveis a todos os jovens. Então, com isso, facilita o acesso e facilita bastante o vício. Então, isso aí impacta bastante nessa trajetória educacional, pois uma vez endividados - ou com seus recursos direcionados para os jogos e apostas - eles vão deixar de optar por estudo, deixar de fazer um curso e de investir na sua educação", explicou o especialista.
As apostas online vêm gerando dívidas, afastamento social e esgotamento emocional, especialmente entre adultos entre 26 e 35 anos. O especialista em gestão educacional ressalta como as instituições de ensino podem atuar na prevenção do vício em jogos de azar virtuais entre os estudantes.
"O núcleo de apoio psicopedagógico das instituições de ensino devem prestar atendimento direcionado ao aluno nos momentos de fragilidade emocional. Fora das escolas/faculdades, a família pode encaminhar o estudante para um psicólogo especializado, onde o aluno possa ter uma orientação e compartilhar essa questão. Quando a pessoa fica sozinha, vai ficando mais difícil de fato dela largar esse vício", alertou Alisson.
Vício em apostas online é comparável a epidemia de saúde pública
No Brasil, os jogos de apostas online têm se tornado uma preocupação crescente entre especialistas por serem projetados para viciar. A popularidade dos aplicativos de apostas, ou bets, é alimentada pela constante propaganda de ganhos vultosos em um curto período de tempo.
O vício em apostas online pode ser comparado a uma epidemia de saúde pública, alerta o psicólogo e pesquisador que fala sobre as consequências psicológicas e financeiras do crescente fenômeno de apostas no Brasil.
Segundo um relatório da XP Investimentos, essas atividades já movimentam 1% do PIB e comprometem 20% do orçamento livre das famílias mais pobres. Já a consultoria PwC estima que as apostas já representam 1,38% do orçamento médio familiar desses estratos de menor renda, um aumento de cinco vezes em relação a cinco anos atrás, quando era de 0,27%. Souza destaca que a incidência de pessoas usando bets cresce em países com maior desigualdade, fazendo com que muitas busquem soluções rápidas para seus problemas financeiros.
A ausência de regulação efetiva no Brasil também é preocupante. Em 2018, uma lei com regras pouco claras legalizou os sites de apostas esportivas, conhecidos como bets. Em 2023, foi aprovada a Lei 14.790, conhecida como nova lei de apostas esportivas, que, em tese, regula os processos de autorização de casas de apostas físicas ou virtuais, estabelece direitos dos apostadores, regula a publicidade de apostas e também a tributação.
De acordo com a Fiquem Sabendo, a aprovação dessa lei foi resultado de meses de lobby das empresas de apostas em ao menos 78 reuniões em nove ministérios.
Em entrevista ao Pauta Pública, da Agência Pública, o psicólogo e pesquisador Altay de Souza alerta para os perigos de uma epidemia ainda silenciosa, oculta nas telas de celulares.
Confira a entrevista completa no podcast Pauta Pública:
Da redação/Itapuama FM. Reportagem: Priscila Mendes/Agência Radioweb. Informações: Agência Pública.
Imagem: Reprodução/Stock Photos.
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